segunda-feira, 10 de junho de 2013

Lição 06 - Introdução à escrita chinesa

Ao fim da lição você encontra um link para um .pdf com a lição.

Enquanto para nós ocidentais, a escrita é meramente uma representação da fala, para os asiáticos a escrita é muito mais: além de ser representação da fala, é arte, cultura, design e mais.

A escrita chinesa é a forma de escrita mais antiga ainda em utilização cotidiana no mundo. No seu início, muito semelhantemente aos hieróglifos, era puramente pictográfica, isto é, representava literalmente a realidade em forma de desenhos, daí muitos chamarem os símbolos chineses de pictogramas.


Alguns exemplos de pictogramas (xiàngxíngzì象形子) ainda em uso no chinês:



De cima para baixo, os caracteres representam “pessoa”, “árvore”, “boca”, “sol/dia” e “lua/mês”. Ainda se pode notar certa semelhança entre os desenhos originais e os caracteres, mas esta semelhança só é notada quando há o conhecimento do que eles representam. 









Contudo, os pictogramas são muito poucos se comparados com o total de sinais. Outro grupo pequeno de caracteres baseados na representação da realidade são os caracteres indicativos (zhǐshìzì, 指事子), que não são literais porque representam conceitos abstratos. Alguns exemplos de caracteres indicativos:





De cima para baixo, representam “para cima”, “para baixo”, “centro/meio”.







Estes dois primeiros grupos são os únicos tipos de caracteres que tem um só “desenho” como forma original, ou seja, não podem ser decompostos em outros caracteres, mas só em traços. Todos os outros caracteres são caracteres compostos (hétǐzì, 合体字) isto é, originados da junção de mais de um caractere. Exemplos de alguns caracteres compostos:


Nestes caracteres compostos, os chineses fizeram algo sem precedente: inventaram um sistema de organização da representação da fala em um caractere que ao mesmo tempo indica a etimologia, isto é, a origem da palavra, e uma indicação de sua pronúncia. Para a indicação da origem da palavra, certos caracteres foram tomados como radicais, ou seja, indicadores de origem:


Nestes caracteres o símbolo para “pessoa” foi transformado em um radical que indica que a palavra tem a ver com pessoas. O segundo símbolo, “água”, indica palavras que tenham a ver com água, líquidos, etc. O terceiro, “mão”, indica palavras  que tenham a ver com mãos, trabalhos manuais, coisas que podem ser pegas ou manuseadas.





Alguns caracteres compostos são associativos, ou seja, combinam dois significados para criar um terceiro, não tendo portanto um componente fonético:


No entando, a enorme e massacrante maioria dos caracteres chineses é formada de picto-fonogramas, isto é, parte pictográfica, parte fonética, sendo a parte fonética meramente indicativa. No exemplo seguinte temos dois caracteres (mulher e cavalo) juntos para criar outro símbolo (mãe):


O da esquerda, o radical, é mulher, que indica a etimologia da palavra: algo que tenha a ver com “mulher”. O da direita, indica a fonética – cavalo em chinês se lê , enquanto mãe se lê . Assim, um falante do chinês faz a conexão: o que tem a ver  com mulher e que se lê como (cavalo)? Simplesmente, mãe! Para um sistema inventado há milhares de anos, é de uma engenhosidade tremenda. 

Infelizmente, é um sistema limitado, e com baixíssima possiblidade de universalização (transportar para outras línguas), já que praticamente só sé aplica ao chinês, que tem em sua base a sílaba. Os símbolos chineses (hànzì, 汉字) também foram adaptados para o uso na Coreia, no Japão, em Taiwan (para taiwanês) e no Vietnã. Como você pode imaginar, é melhor escrever adaptando este sistema do que não ter outra forma de escrever, mas até hoje causa enorme dor de cabeça para os coreanos e japoneses, que ainda usam os símbolos. No Vietnã os hànzì foram descontinuados, no uso do taiwanês tem um uso irregular (há vários sistemas de escrita, e nem sempre há um hànzì para uma palavra nativa), na Coreia do norte abandonados, na Coreia do sul são confinados ao estudo na escola, em casos de homofonia e na promulgação das leis (que por não poderem ser ambíguas, precisam da exatidão dos hànzìs). Além do chinês, somente no Japão estes símbolos são tão arraigados que é praticamente impossível se desfazer deles.

Assim, percebemos que uma parte dos caracteres é o radical – cujos mais comuns são poucos, felizmente – e a outra parte que indica a fonética varia bastante. Mas, de qualquer forma, os hànzì podem ser decompostos em componentes, que são aproximadamente 300. Nos exemplos abaixo, temos hànzì baseados nos radicais kǒubù (boca – o de cima) e rénbù (pessoa – o de baixo):


Assim começamos a ver que por mais que um chinês médio saiba mais de 2000 hànzì, isto não quer dizer que ele sabe mais de 2000 desenhos individuais e sim que cada hànzì é a união de 2 ou mais componentes (entre aproximadamente 300).

As formas básicas (existem outras baseadas nestas) de organização de um hànzì são as seguintes:


Caso você tenha estudado um pouco de coreano, verá que a forma com que os hangeul se organizam é basicamente a mesma coisa da organização dos componentes em um hànzì.

No arquivo .pdf ao fim da lição, temos uma tabela de todos os componentes de um hànzì. Obviamente, não precisa nem falar, não é necessário decorar. Vamos aprendendo pouco a pouco!

Se você tiver a curiosidade de ler a tabela toda, note que os hànzì na verdade são uma ligação com o passado. Imagine descrever o mundo a sua volta com o pouco que existe? Os componentes dos hànzì demonstram como era a realidade na época, há milhares de anos atrás!

Estes radicais são todos os que se encontram em dicionários hoje mas nem todos são comumente usados. Há alguns que eu nunca usei!

Na próxima lição teremos uma parte mais prática de escrita, agora que você viu um pouco da teoria por trás dos hànzì !

加油!

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