學習華語困難嗎?
Dicas 01 – Chinês é difícil?
Bem, ontem eu
não tinha nada pra fazer, decidi dar uma volta de manhã na Liberdade. Estava um
dia bonito e pensei em tomar café da manhã num restaurante taiwanês, andar por lá
e depois almoçar num restaurante chinês. Ligo pra um colega meu do doutorado que estava
de bobeira também (coisa rara pra alunos do doutorado, que meu orientador não
leia isso aqui.... hehehe) e ele anima de ir comigo.
Quando
chegamos no restaurante taiwanês, além da comida estar uma delícia eu troco
umas palavrinhas com a dona do restaurante (o lugar é microscópico, ela mesma
serve, mas é um ambiente super acolhedor). Depois no almoço também converso um
pouco com a atendente do restaurante chinês.
Aí que bate
uma ideia: ensinar chinês pra esse colega. E ele me pergunta: “Chinês é
difícil?”.
1) Fácil, fácil não é...
Muitos sites,
na intenção de desmistificar a língua acabam em exagerar numa pretensa
facilidade da língua. Usam frases como:
Chinês é
muito simples, não precisa conjugar nada, é tudo neandertal mesmo. Olha como
se diz ‘eu te amo’:
wǒ ài
nǐ
我愛你
Eu te amo
E pra falar ‘você
me ama’ é só inverter, não precisa mudar a forma dos pronomes!
nǐ ài wǒ
你愛我
Você me ama
E é muito moleza a gramática mais fácil do mundo!
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(Ok ok, isso aí em cima é verdade... mas quem dera fosse assim toda hora!)
Bom, eu falo inglês e francês fluentemente bem, além de me virar legal em espanhol e falar um pouco de outras línguas. Eu pessoalmente acho chinês a gramática mais fácil das que eu já estudei, com exceção de alguns pontos.
Quando eu digo
fácil, eu quero dizer simples. Mas fácil não quer dizer que é facilmente compreensível
para brasileiros e que a gente absorva e comece a produzir frases rapidão. Isso
porque por mais que seja simples, é bem diferente do português.
Vamos
comparar, espanhol tem uma gramática bem complexa, mas é bem fácil para nós
brasileiros pela proximidade da língua. Se você parar pra pensar a maior
dificuldade de um brasileiro de atingir fluência em espanhol é justamente o
fato de ser tão parecido que toda hora ‘fugimos’ e voltamos pro conforto do
português.
O
chinês é o contrário, a estrutura algumas vezes parece, mas boa parte das vezes
funciona numa lógica bem diferente.
Então,
fácil do tipo ‘moleza, é nóis’, não é.
2) Também não é impossível
Outros sites
acabam por se apoiar nas dificuldades de um ocidental aprender chinês pra dizer
que é quase impossível.
Também não é
por aí. Eu nunca fui de estudar chinês de forma muito séria (comecei na graduação,
mas aí comecei pós e tive que parar, voltei mas aí comecei um mestrado e parei,
aí voltei, mas comecei um doutorado, vocês entendem a lógica kkk) e ainda assim
consigo ler um pouco de mangá, entendo um pouco de músicas, etc. Ou seja, dá.
Se eu pegasse sério, uma ou duas horas todo dia, 5 dias por semana, com certeza
eu chegaria num bom nível de fluência em um ou dois anos. Em cinco, poderia
falar muito bem.
O que faz com
que os brasileiros tenham muita dificuldade é a mentalidade de aprendizado
aqui. A lógica é que a maioria das pessoas pensa que indo pra uma escola de
idiomas, estudando 2 horas por semana e mal fazendo a lição vão aprender alguma
coisa. Na boa, não funciona com inglês, até parece que vai funcionar com
chinês...
Sério, dica de
quem foi professor de inglês e francês por anos, além de ter sido consultor
pedagógico de uma famosa rede de escolas de idiomas, responsável pela
consultoria de 150 unidades: só se aprende por imersão. Mas não me entenda mal,
não estou dizendo que é preciso ir pra China e morar 10 anos lá pra falar bem
(apesar de que se você fizer isso, te dou um prêmio se não aprender...). Mas é
preciso pegar pesado. Inclusive no cursinho de inglês, se você não se dedicar
1, 2 ou mais horas por dia, não adianta de nada, é jogar dinheiro fora.
3) Então quais são as facilidades?
Bom, há
várias. Realmente, não ter conjugação de verbos (nem em pessoa, nem caso, nem
tempo, nem nada) ajuda muito. Os substantivos também não têm gênero, nem
plural. Também não tem artigo (nem definido nem definido). Na primeira fase de
aprendizado isso é maravilho.
Compare com
alemão, que tem conjugação de verbos (e muito verbo irregular), em que substantivos
têm três gêneros (masculino, feminino, neutro), tem 5 formas de fazer plurais
(e muita formas irregulares), os artigos/demonstrativos/etc. se declinam (mudam
de forma conforme a função na frase), etc.
2) E quais as dificuldades (realisticamente)?
Bom, há
várias.
A primeira é a
pronúncia. Não é extremamente difícil como dizem, mas é muito diferente do
português, o que faz com que seja preciso treinar bem e começar treinando, pra
não sedimentar falando errado e depois dar um trabalho enorme pra consertar. Chinês
também tem tons, ou seja, se o som sobe, desce, se mantém fixo no alto ou
baixo, altera o significado. Não acho que seja nada muito difícil do que os
sistema de sílabas tônicas nosso, por exemplo, mas é preciso de muita prática.
Repetir, repetir, repetir até a hora que qualquer coisa diferente fica estranho
pro ouvido.
Ainda ligado à
pronúncia, é bom aprender pīnyīn ou zhùyīn, que são os dois principais sitsemas de transcrição
(escrita de sons) chinesa para quem está aprendendo – já que a escrita chinesa
não escreve sons per si.
Pīnyīn tem a vantagem de usar letras ocidentais. E tem a
desvantagem de que essas mesmas letras representam outros sons que não os do
português (por sinal, nem de língua nenhuma) – e aí que a galera chega lendo
como se fosse português e ou fala muita asneira ou fala uma coisa que ninguém
entende.
Pausa pra historinha: Eu tinha uns 15
anos, e vi uma palavra muito comum chinesa no jornal: “fēng shuǐ’”. Acho que todo mundo sabe o que significa (se
não souber, clique aqui). Chego eu numa loja de uns chineses bacanas lá do meu
quarteirão e falo como qualquer brasileiro falaria: “fêngue chúi”. Obviamente a
tia não entendeu nada, eu desenhei os hànzì pra ela, que finalmente me
corrigiu. Aí caiu a ficha: o som designado pra cada letra não tem nada a ver
com português, nem inglês, nem nenhuma língua. É um sistema feito só pro chinês
– é reaprender o alfabeto, dando novos sons pras letras... Aí que ‘fēng shuǐ’ se lê aproximadamente “fã chuêi”. Entenderam?
Não é porque se escreve com o mesmo alfabeto que é só chegar lendo.
Aqui no blog a gente usa pīnyīn, pode aprender sem medo, mas treina muito, ok?
Zhùyīn representa perfeitamente a fonética chinesa – mas é todo
um alfabeto novo que é preciso aprender, e hoje só se usa em Taiwan. Não é ruim
também aprender, pelo menos a ler um pouco de zhùyīn, eu leio mais
ou menos.
Eu sugiro ir
pro pīnyīn, mas treinar muitoooo a pronúncia.
Sério, muito mesmo. Tipo, gastar horas preciosas da sua vida. E se tiver um amigo
chinês que te corrija melhor ainda. Tem alguns livros (com áudio) e softwares
que ajudam, mas vou deixar pra escrever sobre eles depois.
Em segundo
lugar, na minha opinião - de quem não é fluente (e nem está perto disso) - a
principal limitação é a escrita. Não acho que seja impossível aprender um
número grande de caracteres (eu estimo saber uns 1500 hànzì pra cima), mas é que é fácil esquecer pela falta de uso.
Mais um motivo pra imersão. Você aprende fácil – se você sentar e aprender uns
10 hànzì, vai levar uma hora no máximo. Mas quantos
você vai lembrar em um ano? Sem prática e sem vê-los toda hora, eles somem
muito rápido da sua cabeça.
Ainda no
aprendizado da escrita, outra dificuldade, que talvez venha da tendência de
copiar métodos de aprendizado de outras línguas, é a mania de ‘sincronicidade
fala-escrita’ (aprender a falar e escrever no mesmo processo).
Em línguas
ocidentais, em que a gente já conhece o alfabeto (e as vezes só precisa
aprender uma letra ou acento diferente), dá pra aprender a fala (pronúncia +
significado + uso) e a escrita. (Apesar de que na boa, é melhor focar na fala e
depois ir aprendendo a escrever sem pressão).
Em chinês para
nativos dá fazer assim, porque já sabem o significado, basta adicionar a
escrita. Para não nativos, aprender pronúncia (que é bem diferente), mais
significado, mais uso, mais a escrita é maluquice. Você pode até conseguir, mas
o ritmo vai ser o do mais lerdo, que é da escrita. Assim que você vai diminuir
severamente seu ritmo de desenvolvimento global na língua pela restrição de
velocidade de aprendizado da escrita.
Obviamente
existem métodos que levam essa ‘assincronicidade’ (aprendizado de fala e
escrita em ritmos diferentes) em conta. Eu mesmo gosto de dois livros (que vou
fazer resenhas nessa mesma seção depois) cujo objetivo é minimizar essa
dificuldade: Rapid Literacy in Chinese e Remembering the Hanzi (nenhum dos dois
tem tradução pro português L). Não vou me
alongar nesse ponto mas depois escrevo mais.
Terceira
– o chinês é uma língua isolante e analítica. Esse aspecto é uma faca de dois
gumes (pode ser muito bom, ou muito ruim pra quem está aprendendo). Uma língua
isolante quer dizer que há pequenas unidades de significado que juntas fazem
palavras. Ou seja, é brincar de lego – vai juntando as sílabas (que têm um
significado básico) e fazendo novas palavras. Só tem um problema, com isso você
tem uma dose de liberdade pra juntar novos bloquinhos e fazer palavras levemente
diferentes. E aí que a tarefa de aprender vocabulário complica porque ao invés
de uma forma padrão, tem várias pra aprender.
Quer
ver um exemplo? O título desse post já mostra esse ponto: logo você aprende que
"difícil" em chinês é nán (難). Mas também pode ser kùnnán (困難). Mas também pode
ser jiānkǔ (艱苦) ou jiānnán (艱難). Ou mais
algumas versões... E cada um tem um significado levemente diferente e preciso.
(PS:
obviamente tem casos que só há uma palavra pra um significado, mas ter
pensamento divergente e lateral ajuda em aprender chinês... é preciso deixar de
lado a ‘mentalidade’ ocidental na língua.)
(PS2:
O lado positivo é que isso permite uma precisão de significado bem legal,
quando você chega num nível mais adiantado).
Quarta
– outra faca de dois gumes: chinês não tem tempo verbal. Isso é ótimo na
verdade, mas como nossa “visão de mundo” linguística é baseada em tempo a gente
tem uma certa dificuldade de se acostumar com o sistema chinês que, por outro
lado, marca aspectos. Não vou entrar em detalhes aqui, mas não é pra ter
pânico. Sim, a língua chinesa descreve tempo, mas não da forma com que estamos
acostumados. Por outro lado os tais dos aspectos, por não existirem em
português, podem demorar um pouco pra gente se acostumar.
Mais hora ou menos hora você vai encontrar o le (了), guò
(過) e seus amiguinhos que vão fazer
uma bagunça na sua cabeça. Mas depois passa e eles se tornam seus amigos! Aí
você vai ficar se perguntando porque cargas d’água não existe marcação de
aspecto em português, porque esse treco é bem útil.
Quinta
e última – aí não tem nada a ver com a língua. Brasileiro tem uma mania besta,
besta mesmo, de não querer passar vergonha falando errado. Meu, você só aprende
mesmo quebrando as pernas. Não tem como. Eu mesmo falei uma merda hoje, algo
que todo mundo que já estudou chinês sabe (não vou nem contar porque dá
vergonha :D). Mas é assim, a gente ri, pede desculpa e bola pra frente. Quem fica
com vergonha nunca vai aprender.
Bom,
o objetivo não é assustar quem quer aprender, mas dar uma visão realística do
que é aprender chinês. Nem é moleza, nem é absurdamente difícil. É aquela coisa
né? Se for pra aprender é se dedicar, se jogar de cabeça e pegar firme que
quando você menos imaginar, tá lá falando.
Faça
um desafio pra você mesmo de estudar todo dia meia hora pelo menos, e veja
daqui a um ano como fez efeito.
Bons
estudos!
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